segunda-feira, 2 de julho de 2012


          Paixões de adolescência. Começam do nada e acabam em nada porque não valem nada, a não ser enquanto duram, às vezes com a vida mais breve do que uma mosca. Paixões impossíveis, que nos tiram o sono e o apetite, nos põem a contar as estrelas e a escrever poemas pirosos, nos fazem rezar mesmo quando já deixamos de ir à missa desde os doze, nos adoçam o coração e o olhar e enchem  a almofada de água salgada quando as coisas correm mal, ou pior ainda, não correm.
Depois uma pessoa cresce e habitua-se a sofrer. A esperar. A sonhar um bolo gigante a partir de três migalhas. A acreditar no impossível. A desejar o impensável. A querer que aqueles que amamos nos tragam o mundo numa bandeja. Até ao dia em que uma pessoa se cansa, baixa os braços e diz agora basta. Basta de espera, de abnegação, de sonhos, de promessas, de palavras mágicas e inconsequentes. Basta de promessas de amor, de castelos de areia, de adiamentos e hesitações, de ausências e dúvidas. E depois, o mundo vai abaixo. As casas, os prédios, as pontes, tudo se desfaz num estrondo imenso e assustador, que faz quase tanto barulho como um coração a bater com a porta. E como é o nosso coração que está a bater a porta, ainda custa mais.
E sentimo-nos a desmanchar por dentro. Não é a partir, é só a desmanchar, como se nada tivesse forma ou fizesse sentido. Dá vontade de destruir tudo,  de descansar e de sussurrar baixinho solitariamente  para explicar o que se passa. Que o cansaço já está acima do sonho, que o medo está acima da força, que a vontade comanda a vida mas não o amor. Explicar que o tempo há-de trazer nos ventos a indicação de um caminho qualquer para onde tudo possa ir sem ser carregado.
E o amor transforma-se numa luta, num sacrifício, somos mártires da nossa loucura, flagelados pela nossa obstinação e teimosia. E o pior é que quando chegamos ao fim da batalha e chegamos lá acima, não era naquela sala, nem naquela casa, nem era aquela pessoa. 

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