Paixões de adolescência. Começam do nada e acabam
em nada porque não valem nada, a não ser enquanto duram, às vezes com a vida
mais breve do que uma mosca. Paixões impossíveis, que nos tiram o sono e o
apetite, nos põem a contar as estrelas e a escrever poemas pirosos, nos fazem
rezar mesmo quando já deixamos de ir à missa desde os doze, nos adoçam o
coração e o olhar e enchem a almofada de
água salgada quando as coisas correm mal, ou pior ainda, não correm.
Depois uma pessoa cresce e habitua-se a sofrer. A
esperar. A sonhar um bolo gigante a partir de três migalhas. A acreditar no
impossível. A desejar o impensável. A querer que aqueles que amamos nos tragam
o mundo numa bandeja. Até ao dia em que uma pessoa se cansa, baixa os braços e
diz agora basta. Basta de espera, de
abnegação, de sonhos, de promessas, de palavras mágicas e inconsequentes. Basta
de promessas de amor, de castelos de areia, de adiamentos e hesitações, de
ausências e dúvidas. E depois, o mundo vai abaixo. As casas, os prédios, as
pontes, tudo se desfaz num estrondo imenso e assustador, que faz quase tanto
barulho como um coração a bater com a porta. E como é o nosso coração que está
a bater a porta, ainda custa mais.
E sentimo-nos a desmanchar por dentro. Não é a partir,
é só a desmanchar, como se nada tivesse forma ou fizesse sentido. Dá vontade de
destruir tudo, de descansar e de
sussurrar baixinho solitariamente para
explicar o que se passa. Que o cansaço já está acima do sonho, que o medo está
acima da força, que a vontade comanda a vida mas não o amor. Explicar que o
tempo há-de trazer nos ventos a indicação de um caminho qualquer para onde tudo
possa ir sem ser carregado.
E o amor transforma-se numa luta, num sacrifício,
somos mártires da nossa loucura, flagelados pela nossa obstinação e teimosia. E
o pior é que quando chegamos ao fim da batalha e chegamos lá acima, não era
naquela sala, nem naquela casa, nem era aquela pessoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário